segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Recomeçar
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Eu prefiro ser essa plasticidade ambulante…
Ano passado vários sites noticiaram que há 20 anos morria Raul Seixas, um dos roqueiros brasileiros mais influentes.
Toda vez que ouço o nome Raul Seixas meu cérebro logo mexe nas minhas memórias armazenadas a respeito dele e traz a tona a música “Metamorfose Ambulante”:
“Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante… do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo…”
Raul Seixas (até onde eu saiba) não era neurocientista, mas devia levar jeito pra coisa… pois é isso mesmo que nós somos! Metamorfoses ambulantes!
Nós estamos o tempo inteiro aprendendo coisas, mudando, nos tranformando. E os nossos neurônios também!
A cada coisinha que nós aprendemos nossos neurônios também mudam… é o que chamamos de plasticidade neuronal!
A plasticidade neuronal é necessária não só no aprendizado, na formação e armazenamento de memórias como também na atualização e modificação de memórias existentes, ou seja, é melhor ser essa plasticidade ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo!
Para saber como ocorre a plasticidade neuronal é importante saber o que é uma sinapse. As sinapses são conexões especializadas que permitem transmitir informações de um neurônio a outro neurônio (ou a outra célula).

- Potenciação de Longa Duração: também conhecida por LTP (long-term potentation) é uma excitação que se mantém de maneira persistente, aumentando a eficiência das sinapses.
Mas como ocorre essa excitação?
O GLUTAMATO é um tipo de neurotransmissor (chave) que desempenha um papel importante na LTP e pode ligar-se a vários tipos de receptores (fechaduras), entre eles, os receptores AMPA e NMDA.
AMPA: este é o primeiro receptor a responder à ação do glutamato liberado na sinapse. Quando o glutamato se liga ao AMPA promove a abertura de canais para sódio e potássio, provocando assim uma excitação da membrana do próximo neurônio.
NMDA: a abertura desse tipo de canal permite que entre cálcio no próximo neurônio, fazendo com que este gere estímulos mais intensos ainda.
Esta série de eventos podem durar de horas a dias e possui funções importantes na aprendizagem.
- Depressão de Longa Duração: também conhecida como LTD (long-term depression), é um tipo de plasticidade semelhante à LTP – mas com sinal contrário. Neste caso, ocorre um enfraquecimento da transmissão sináptica por diminução da entrada de cálcio.
- Sinaptogênese e Remodelamento Sináptico: crescimento de novas sinapases ou mudanças nas sinapses já existentes.
- Neurogênese (nascimento e crescimento de novos neurônios): ao contrário do que se acreditava, novos neurônios continuam surgindo no cérebro do adulto (giro denteado e bulbo olfatório). Embora possa ocorrer neurogênese em outras regiões em casos de dano cerebral.
Vale ressaltar que esses 4 mecanismos de plasticidade não são completamente independentes. Portanto, nosso cérebro está em constante e dinâmica modificação devido ao aprendizado e formação de memórias, através do aumento da eficiência ou do enfraquecimento da transmissão sináptica, formação ou remodelamento de sinapses e neurogênese.
Melhor assim né?
Já pensou ter sempre a mesma velha opinião sobre tudo???
Toca Raul!
Josy Pontes
Mestre em Ciências pela UNIFESP e atualmente doutoranda do laboratório de neurofisiologia desta mesma universidade.
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Pensar sobre pensar

Pensar sobre pensar
O cérebro humano é uma coisa tão complexa que nem o cérebro humano é complexo o bastante para entende-lo. Era só o que eu queria contribuir para o desânimo geral destes dias, obrigado. Não, o certo é que nunca entenderemos nosso cérebro como nunca entenderemos as últimas razões do Universo – ou, pensando bem, as primeiras. Os limites da especulação sobre o fim e a origem da matéria e os limites do pensamento sobre o pensamento são os limites do conhecimento humano. O que não impede alguns malucos de continuarem a tentar expandi-los.
No campo do conhecimento do cérebro, ou do pensamento sobre o pensamento, está havendo uma guerra de teorias parecida com uma questão religiosa de alguns séculos atrás. Que, pelo menos para os religiosos continua. Discutia-se então a divisão entre corpo e mente. Ou alma, ou que outro nome tivesse uma essência humana separada da biológica. Na neurociência, chegou-se, não faz muito, a um consenso mecanicista do cérebro como uma planta eletroquímica e do seu funcionamento como os processo desta incrível usina, complicada além da imaginação, mas não além da biologia. O que desgostou os psicólogos mas parecia incontestável. Agora tem gente dizendo que mente e cérebro são duas coisas completamente diferentes. Usando uma analogia que Santo Agostinho não contava, no seu tempo, dizem que cérebro é um computador e a mente é um programa. Hardware e softwareem português claro. Ou seja, dois cérebros exatamente iguais podem ter mentes diferentes. Há fantasmas, afinal, dentro da usina. A natureza dessa alma reabilitada, claro, continua um mistério. Os limites do nosso autoconhecimento só chegaram um pouco mais para lá.
Sempre me pareceu enlouquecedor que os sonhos, justamente a oportunidade que nosso cérebro tem de falar conosco a sós, sejam em código, em linguagem simbólica, geralmente inteligível. Não estamos nem acordados para poder dizer “fala sério!”. A explicação seria que sonhos são o cérebro brincando de mente, o hardware sem um software para lhe dar coerência e objetivo exercitando seus circuitos, apenas mantendo-se aceso. De vez em quando surge um enredo, uma seqüência, uma sugestão de sentido ou mensagem. E são destes sonhos que a gente s lembra. Mas não querem dizer nada. São como os rabiscos de um macaco, que de repente, sem querer, desenha uma cara. Se alguém um dia nos explicar o cérebro, não será o nosso cérebro.
Luis Fernando Verissimo