quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Eu prefiro ser essa plasticidade ambulante…

raul palst

Ano passado vários sites noticiaram que há 20 anos morria Raul Seixas, um dos roqueiros brasileiros mais influentes.

Toda vez que ouço o nome Raul Seixas meu cérebro logo mexe nas minhas memórias armazenadas a respeito dele e traz a tona a música “Metamorfose Ambulante”:

“Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante… do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo…”

Raul Seixas (até onde eu saiba) não era neurocientista, mas devia levar jeito pra coisa… pois é isso mesmo que nós somos! Metamorfoses ambulantes!

Nós estamos o tempo inteiro aprendendo coisas, mudando, nos tranformando. E os nossos neurônios também!

A cada coisinha que nós aprendemos nossos neurônios também mudam… é o que chamamos de plasticidade neuronal!

A plasticidade neuronal é necessária não só no aprendizado, na formação e armazenamento de memórias como também na atualização e modificação de memórias existentes, ou seja, é melhor ser essa plasticidade ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo!

Para saber como ocorre a plasticidade neuronal é importante saber o que é uma sinapse. As sinapses são conexões especializadas que permitem transmitir informações de um neurônio a outro neurônio (ou a outra célula).

A informação “corre” na forma de impulsos elétricos ao longo do neurônio e quando chega na pontinha do neurônio (terminação axonal) ele libera substâncias químicas chamadas neurotransmissores na fenda sináptica (espacinho entre um neurônio e outro) que se ligam a receptores no próximo neurônio. Os neurotransmissores funcionam como chaves e os receptores como fechaduras, e a ligação neurotransmissor-receptor pode inibir ou excitar o próximo neurônio!
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A ligação chave-fechaduradura… ou melhor, neurotransmissor-receptor pode acarretar alterações duradouras nos neurônios por meio da plasticidade sináptica. Este sistema possui um papel fundamental nos processos do aprendizagem e memória.

- Potenciação de Longa Duração: também conhecida por LTP (long-term potentation) é uma excitação que se mantém de maneira persistente, aumentando a eficiência das sinapses.

Mas como ocorre essa excitação?

O GLUTAMATO é um tipo de neurotransmissor (chave) que desempenha um papel importante na LTP e pode ligar-se a vários tipos de receptores (fechaduras), entre eles, os receptores AMPA e NMDA.

AMPA: este é o primeiro receptor a responder à ação do glutamato liberado na sinapse. Quando o glutamato se liga ao AMPA promove a abertura de canais para sódio e potássio, provocando assim uma excitação da membrana do próximo neurônio.

NMDA: a abertura desse tipo de canal permite que entre cálcio no próximo neurônio, fazendo com que este gere estímulos mais intensos ainda.

Esta série de eventos podem durar de horas a dias e possui funções importantes na aprendizagem.

- Depressão de Longa Duração: também conhecida como LTD (long-term depression), é um tipo de plasticidade semelhante à LTP – mas com sinal contrário. Neste caso, ocorre um enfraquecimento da transmissão sináptica por diminução da entrada de cálcio.

- Sinaptogênese e Remodelamento Sináptico: crescimento de novas sinapases ou mudanças nas sinapses já existentes.

- Neurogênese (nascimento e crescimento de novos neurônios): ao contrário do que se acreditava, novos neurônios continuam surgindo no cérebro do adulto (giro denteado e bulbo olfatório). Embora possa ocorrer neurogênese em outras regiões em casos de dano cerebral.

Vale ressaltar que esses 4 mecanismos de plasticidade não são completamente independentes. Portanto, nosso cérebro está em constante e dinâmica modificação devido ao aprendizado e formação de memórias, através do aumento da eficiência ou do enfraquecimento da transmissão sináptica, formação ou remodelamento de sinapses e neurogênese.

Melhor assim né?

Já pensou ter sempre a mesma velha opinião sobre tudo???

Toca Raul!

Josy Pontes

Mestre em Ciências pela UNIFESP e atualmente doutoranda do laboratório de neurofisiologia desta mesma universidade.

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