Verdade ou sacanagem?
Histórias do mundo da música nacional
Quando completou 15 ou 16 anos, Creusa chegou no pai para dizer que estava deixando o barraco na Mangueira para ir morar com uma amiga e ganhar o mundo, que estava cheio de coisas interessantes e paixões para se viver. Espantado com a ousadia da filha, que àquela altura, como toda adolescente, parecia achar que sabia tudo da vida, Cartola escreveu os versos de alerta de "O Mundo É um Moinho": "Ainda é cedo amor/ Mal começaste a conhecer a vida/ Já anuncias a hora da partida/ Sem saber mesmo o rumo que irás tomar".
Ainda dentro das dores e agruras do amor, os meninos do Ultraje a Rigor tiveram outro tipo de experiência. Quando o vocalista Roger descobriu que estava, digamos, "dividindo" uma das groupies com o baterista da banda, resolveu levar numa nice e compôs um dos grandes hits da banda "Ciúme". Ele queria levar uma vida moderninha, coitado.
Mais moderno - beirando o surreal, eu diria - foi o estranho encontro que outra banda teve no elevador de um prédio de escritórios. Na tarde em que foram assinar seu primeiro contrato com uma gravadora, os Inimigos do Rei saíram faceiros da empresa e chamaram o elevador planejando descer no calçadão de Copacabana para tomar uma cervejinha. Já dentro do aparato, eis que, alguns andares abaixo, adentra uma anã e os cumprimenta em espanhol. O episódio rendeu o sucesso "Adelaide", sobre uma (suposta) anã paraguaia que deixa o cantor na pior.
Mas na pior mesmo estava Tim Maia. Em um de seus muitos baixos (em uma vida de altos e baixos), o gordão estava morando - de favor - com dois amigos, um deles também cantor. Enquanto eles se davam muito bem, trazendo menininhas e grana para casa toda noite, Tim amargava as noites em um sofá-cama horroroso, em uma salinha decorada com um pôster com o mar do Taiti. Olhando aquele azul e cheio de tristeza, Tim escreveu "Azul da Cor do Mar".
O mar, aliás, figura em outra história curiosa. Quando adolescentes, os vizinhos Rita Lee Jones e os irmãos Sérgio Dias e Arnaldo Baptista viajaram uma vez para a praia, com o senhor e a senhora Lee Jones. Lá, os dois meninos resolveram dar uma "volta de reconhecimento" - e não conseguiram mais encontrar a casa. O pai de Rita Lee achou os dois pedindo informações no balneário vizinho. E, anos mais tarde, o episódio foi inspiração para a clássica "Não Vá Se Perder Por Aí".
Perdida também estava Penélope, filha do cantor e compositor Marcelo Nova, com a encomenda da professora: fazer um trabalho sobre a vida da maluquete francesa Joana D'Arc. Ela pediu ajuda ao pai, que bravamente enfrentou enciclopédias e livros até a menina terminar a pesquisa. Depois, com aquela loucura toda de visões e coisa e tal na cabeça, Marcelo Nova sentou-se e escreveu a subversiva, divertidíssima "Eu Não Matei Joana D'Arc", enfiando a CIA, a KGB, alcoolismo e beijos lésbicos na história da pobre santa francesa.
Temas polêmicos, aliás, eram um must para Renato Russo. O líder do Legião Urbana falava declaradamente sobre bissexualismo em "Meninos e Meninas", mas ninguém percebeu que outra de suas composições era bem reveladora: segundo ele, "Eu Era um Lobisomem Juvenil" era uma referência à sua adolescência difícil, quando ele tinha de esconder de todos que gostava, como admitiu mais tarde, de meninos e meninas..
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